Grande Sertão: Veredas

por | 01/04/2020 | Resenhas | 1 Comentário

Autor(es): Guimarães Rosa

Lançamento: 1956

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“Grande Sertão: Veredas” (1956), de João Guimarães Rosa, é uma das mais renomadas e emblemáticas obras da literatura brasileira e lusófona. Um romance modernista ímpar e inovador.

Para Antonio Candido, nesta obra “há de tudo para quem souber ler, e nela tudo é forte, belo, impecavelmente realizado.” A utilização e recriação da linguagem se destacam na obra pela autenticidade da escrita e a perfeição estilística. Neste experimentalismo linguístico, característico da primeira fase do modernismo, Rosa usa aforismos, neologismos, arcaísmos, onomatopeias e aliterações que ajudam a formar um cenário poético e musical para a narrativa. A leitura, por isto, pode parecer complicada, num primeiro contato, mas é uma dificuldade passageira.

Vistos de cima, aparecem a caixa vermelha, à esquerda, o livro com capa branca em letras vermelhas, lembrando um bordado inacabado, à direita, e uma xícara de café, ao centro, por cima da parte aparente do catálogo da exposição,

Edição comemorativa de 50 anos da obra, lançada em 2007, pela Editora Nova Fronteira, que vem com o catálogo da instalação de Bia Lessa, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Foto: Acervo Recanto da Literatura

É a epopeia de um jagunço, Riobaldo, narrador-protagonista, que, na medida em que vai cruzando o sertão mineiro, se debate entre o bem e o mal e conta a história da sua vida para alguém que não aparece na trama, mas que ele trata, ora com intimidade, ora com cerimônia. Carregada de forte regionalismo, a obra é um mergulho cultural. Ao mesmo tempo em que descreve batalhas de jagunços e feitos dos seus personagens, traz questões universais, como rivalidade, violência, amor, guerra e sexualidade.

Cabe atentar, ainda, que toda a história é fruto da memória de Riobaldo e, devido à nossa memória ser extraordinariamente sugestionável, nunca se sabe quando ou o quanto é verdade o que se está sendo contado. A obra, de um único capítulo, é mesmo assim: a fala constante e infinita de Riobaldo, personagem que, segundo Vargas Llosa, tem “alguma coisa de um paladino de romance de cavalaria, de um mosqueteiro romântico e de um aventureiro de faroeste”.

Nesta viagem interna de Riobaldo se destaca pra mim a palavra que encerra o romance – travessia. Ela me dá a sensação de infinito, de esperança de sempre poder recomeçar, como se cada leitura desse livro fosse a primeira vez.

 

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Mariana Gago

Advogada e entusiasta do papel transformador dos livros. Idealizadora e editora do projeto Recanto da Literatura.

1 Comentário

  1. Eduarda Eleana Bordin Morari

    Adoro esse livro, li uma parte a internet e quero comprar ele

    Responder

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