No seu pescoço

por | 08/03/2018 | Resenhas | 0 Comentários

Lançamento: 2009

Esta resenha foi gentilmente emprestada pelo professor Rafael Ottati (Instagram @elrafa.lit), a quem agradeço muito por me incentivar nos primeiros contatos com esta escritora fantástica.

Chimamanda Adichie, “No Seu Pescoço “. O que dizer deste livro de contos que nos pega pelo pescoço? 

Publicado em 2017 no Brasil, são 12 contos, a maioria com poucas páginas. Todos possuem elementos comuns às outras obra da Chimamanda, como a relação entre o sujeito e a sociedade, que é a linha-mestra desta obra.

A sociedade impacta nas mínimas esferas todas as personagens femininas nesses contos, ao ponto de algumas sequer terem controle de suas vidas. 

4 livros da Chimamanda espalhados sobre uma bandeja de palha

No seu pescoço, Chimamanda Ngozi Adichie, da Companhia das Letras. Foto: Acervo Recanto da Literatura

São muitos os choques culturais e as falhas de tradução linguístico-cultural entre a “América” real e a vista/imaginada pelos sujeitos africanos, assim como as muitas Áfricas de onde eles provêm.

Os EUA, por sua economia, são vistos por muitos africanos neste livro como uma tábua de salvação e o visto é como ganhar na loteria. 

Por outro lado, essa cultura dominante é criticada em muitos outros momentos, pois age como rolo compressor em cima das culturas dos povos colonizados. 

O total desconhecimento do Outro e da sua cultura gera uma discriminação cruel, como vemos na busca do nigeriano por uma esposa de pele mais clara: “‘Eu fiquei feliz quando vi sua foto’, continuou ele, estalando os lábios. ‘Você tinha a pele clara. Eu tinha que pensar na aparência dos meus filhos. Negros de pele clara se dão melhor nos Estados Unidos.'”

E o que dizer da mudança de nome? “‘Ninguém me chama de Ofodile aqui, aliás. Eles me chamam de Dave.'”. Mudar seu próprio nome é mudar parte de quem você é, assim como significa distanciar-se de seu passado e de suas tradições.

A afro-descendente que nasceu nos EUA, porém, busca a reafirmação de suas raízes étnicas, de forma que a personagem principal se questiona: “Ela, uma negra americana, tinha escolhido um nome africano, enquanto meu marido me obrigava a trocar o meu por um nome inglês”. Por fim, há as sutilezas da escrita da Chimamanda, que também nos arrebenta em momentos sem violência gráfica alguma, em frases na verdade bastante simples. Preste atenção nos jogos de palavras e nos tempos verbais.

Embora os temas sejam pesados, a escrita é leve e flui bem, o que comprova por que a autora está sempre nas listas das escritoras mais revelantes hoje.

 

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Mariana Gago

Advogada e entusiasta do papel transformador dos livros. Idealizadora e editora do projeto Recanto da Literatura.

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